Beber menos, beber melhor
Dizem que a fermentação é o segredo da cerveja. Mas a temperatura, o caneco e o contexto em que a bebemos também faz total diferença no modo como apreciamos essa bebida – que é a terceira mais popular do mundo, perdendo apenas pra a água e o chá. E quando se fala em bebida alcoólica mais consumida no planeta Terra, ela está em primeiro lugar.
Talvez a produção da cerveja seja tão antiga quanto a própria agricultura, tendo aparecido possivelmente logo depois do surgimento do pão. Por uma fermentação não proposital, alguém viu que quando a massa do pão molhava, ficava melhor, surgindo assim o “pão líquido”. Grãos de cereais, levedura, e aí se vão uns dez mil anos até chegarmos em todas as variedades de breja que temos hoje.
A Lei Alemã de Pureza, Reinheitsgebot, foi instituída em 1516 pelo duque Guilherme IV, da Baviera, com o objetivo de regulamentar o processo cervejeiro. A Lei estabelece que os únicos elementos aceitos na fabricação de cerveja são água, malte, lúpulo e levedura. Mas, aqui pro Brasil, a cerveja demorou a vir. Dizem que os portugueses se sentiam ameaçados em perder seu mercado de vinhos.
Então, em 1808, a cerveja foi trazida pela Família Real, de mudança para a nova colônia – apenas porque o Rei não podia ficar sem sua bebida predileta. Com a abertura dos portos às nações amigas, a Inglaterra foi a primeira a introduzir a cerveja aqui no País. Desde sua vinda ao Brasil, foram trinta anos pro País começar a produzir cerveja aqui, mais precisamente no Rio de Janeiro.
Valorização
A relação da cerveja com o vinho ainda é presente. Na opinião de Juliano Bortoluzzi Reis, sócio da Cervejaria Elementum, a prática de beber cerveja está passando pelo mesmo processo que o vinho passou décadas atrás. “Beber menos e beber melhor, talvez essa seja a essência das cervejas artesanais. Isso aconteceu com o vinho e agora a cerveja passa pelo mesmo processo, as pessoas estão bebendo com mais qualidade e não bebendo por beber”, diz.
A valorização das microcervejarias e até da popularidade das cervejas artesanais, segundo Juliano, se deve ao aumento da produção e do consumo, o que resulta em um crescimento. A Elementum, por exemplo, tinha o objetivo de produzir dez mil litros de cerveja em um ano. Com sete meses de vida eles já passaram há tempo dessa marca.
Eles produzem quatro tipos da bebida: american ipa, lager, weiss e wit bier. A última, que, segundo ele, é a mais consumida da marca, é inspirada nas wit biers da Bélgica. Na fórmula ela leva, além dos ingredientes tradicionais, zimbro, coentro e limão siciliano, o que a faz leve e até refrescante.
“Não pensamos só na cerveja, mas num conceito que junte arte, gastronomia e música, uma maneira de fomentar isso tudo através da cerveja artesanal. Assim a arte se aproxima mais do público. Diante de uma gôndola, por exemplo, a gente precisa conquistar o consumidor pelo visual e posicionamento de marca, pra que ele leve a cerveja pra casa e conheça”, diz.
As estratégias pra captar o público são várias, porque, afinal, até pouco tempo, a popularidade das cervejas artesanais era muito menor. “O grande diferencial de uma cerveja artesanal para a industrializada é a qualidade”, explica Cristiano Feltes, da Baita Bier. Segundo ele, a grande maioria das cervejas artesanais usam cem por cento de malte. “No Brasil é comum as grandes empresas usarem outros cereais, como o milho”, explica.
Sabor diferente
Que quem quiser experimentar cervejas artesanais precisa estar preparado para encarar algo diferente. “Muita gente prova cerveja artesanal e não gosta. Isso normalmente acontece porque essas pessoas não começam pelo produto certo. Existem cervejas artesanais que são mais fortes e mais amargas que aquelas que estamos acostumados. Por isso, é bom ir acostumando o paladar”, explica Cristiano. “Quando a gente se acostuma com a qualidade de uma boa cerveja artesanal, percebe que as cervejas comuns são como água!”, brinca.
Gelada?
“As pessoas estão procurando saber mais sobre harmonizações, querendo entender os tipos de cervejas. A apreciação está mais presente”, afirma Juliano, da Elementum, mesmo reconhecendo a resistência de alguns – principalmente pela questão da temperatura na qual as artesanais são servidas.
“Por lei, a cerveja precisa ter 50% de malte. O que acontece é que, por serem filtradas muitas vezes, as cervejas de grandes cervejarias às vezes têm menos de trinta por cento. Assim, se essas fossem consumidas na temperatura indicada, não teriam um sabor apreciável, por isso nos acostumamos a bebê-las muito geladas, o que bloqueia parte da percepção das papilas gustativas fazendo com que a gente não sinta o sabor por completo”, explica. Por isso, pra uma melhor apreciação, as cervejas artesanais são servidas entre 2º a 4º C.
Dificuldades
Os impostos são um dos maiores empecilhos no ramo das cervejas artesanais. A taxação média é de 60%. “Uma boa parte do preço do nosso produto é imposto. Uma cervejaria pequena paga a mesma taxa que as maiores empresas do País. A diferença é que eles tem uma produção muito maior”, explica Israel Vianna, da Rasen Bier, de Gramado.
“Já estamos há mais tempo no mercado, então já superamos algumas das dificuldades de quem está começando. O fato de estarmos em Gramado também facilita, pois as pessoas vêm para cá a passeio, então estão dispostas a gastar um pouco mais”, explica: “Nosso diferencial é a qualidade.”
Fonte: http://www.movirs.com.br/
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